"Quantas vezes eu quis reunir seus filhos" (Mt 23, 37)

Deus envia profetas para anunciar a sua mensagem. Porém, o povo de ontem e de hoje rejeita acolhê-los. Seu coração permanece fechado, rejeitando assim os enviados: "matando e apedrejando" (v.37 a).O profeta não é acolhido. Sua mensagem é questionadora e provoca a revolta. Jerusalém torna-se celeiro da matança dos profetas, dos enviados do Senhor.
Mas Deus não desiste do seu povo. Deseja conduzi-lo pelo caminho da salvação e envia Jesus com a finalidade de reunir os filhos de Deus dispersos. O apóstolo Paulo diz que antes, quando ainda estávamos sem Jesus, encontrávamos “afastados da cidadania de Israel”, estranhos para as alianças da promessa, sem esperanças, sem Deus (Ef 2, 12). Para Paulo a vinda de Jesus permitiu que nos aproximássemos. Afirma o apóstolo: "Mas agora, em Jesus Cristo, vocês que estavam longe foram trazidos para perto, graças ao sangue de Jesus" (Ef 2, 13).
O sangue de Jesus vertido na cruz é graça derramada para todos os homens de todos os tempos e lugares. Uma vez mergulhados nesse sangue podemos encontrar a salvação.
Jesus veio reunir os filhos de Deus dispersos. Sua vida foi uma constante tentativa (quantas vezes v.37) de reuni-los. Essa sua ação era movida pelo carinho, pelo amor. Deus quis por meio de Jesus amparar a todos. O desejo de Jesus era de proteger, acalentar, guardar, aquecer com seu amor a humanidade.
A comparação com a galinha que reúne os pintinhos debaixo das asas (v.37 b) demonstra a grandeza do amor e da ternura de Jesus pelo povo da nova aliança. Seu propósito era de que todos se salvassem e que deixassem de vagar perdidos sem o amparo do Pai.
Sobre as “asas” de Jesus todos são convidados a se acalentar. Mas o povo de Jerusalém não quis. Jesus lamenta por Jerusalém a quem dedica todo seu amor, no entanto, não é acolhido.
Hoje, também temos negado o amor de Jesus. Preferimos dizer-lhe não a sua proposta amorosa.
Sobre quais “asas” temos buscado a proteção e o acolhimento?
Minha resposta para com o seu amor tem sido sim ou não?
Nunca um Deus nos amou tanto, como nunca fomos tão ingratos ao seu amor. A nossa correspondência ao seu amor tem sido desprovida de sinceridade. Viramos o rosto para não vê a face de Deus. Preferimos se fechar no nosso egoísmo a ter que abrir-se para o seu amor. Não nos sentimos ainda tocados, cativados por seu amor.
Deus é o Amor que insiste em nos conquistar, nos amar. Porém, negamos, rejeitamos esse amor. Preferimos outros “amantes”, “amores” a ter que ceder a Ele. Esquivamo-nos de fazer a experiência do verdadeiro amor, que não passa simplesmente pelo prazer (Eros), mas pela oblação (Agape), sacrifício.
Poucos têm amado ao Deus da vida. No entanto, muito querem ser amados por Deus. Fazemos Dele o nosso “amante”, “caso”, mas não o nosso amor. Mantemos uma relação de interesses.
Diante do amor declarado de Deus nos posicionamos numa atitude de rejeição. Confessamos abertamente: “Eu não quero te amar”; “Eu não te aceito”; “Você não me interessa”; “sai fora”; “nem te conheço”.
Ó geração ingrata! Somos “Pintinhos deserdados” quando abandonamos a ternura de Deus para vagarmos errantes pelo mundo da ilusão.