"Eu vi a miséria do meu povo" Ex 3, 7

Iahweh disse: Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu grito por causa de seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel (Ex 3,7-8).

A cada dia que passa, percebemos que é necessária uma grande mudança neste mundo em que vivemos.
O apelo de Deus para o novo, sempre esteve presente na vida de seu povo desde o início da história da humanidade. A Bíblia revela o rosto de um Deus preocupado com a situação de miséria e opressão porque passava o seu povo, escravo do poder opressor, dominador e ante-democrático. Essa divindade grandiosa não se cala diante do sofrimento dos necessitados, escuta seus clamores e não cessa de vir em auxílio: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores e conheço seus sofrimentos” (Ex 3,7).
Diferente dos ídolos, que “têm boca e não falam, têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem”; (Sl 115,5-6), Javé, o Deus da vida, não fica indiferente a realidade de sofrimento do seu povo, ele vê, ouve, conhece.Javé não apenas sabe do sofrimento que passa o seu povo, mas opta por libertá-lo. Diz o livro do Êxodo: “Por isso desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel” (3,8).
Só um Deus rico em amor é capaz de descer, vir ao encontro da humanidade, para que ela suba para um estado de liberdade. O desejo de Deus é que possamos sair da superfície da escravidão e marchemos para a terra de abundância.Deus sempre teve um plano de libertação para seu povo e que com certeza este plano de vida e salvação está aberto a todos.
O Senhor da vida renova este convite de libertação ainda hoje. Porém, nem sempre estamos dispostos a aceitar sua proposta de libertação, preferimos permanecer numa condição de servidão. Embora tendo olhos, não vemos, tendo ouvidos não ouvimos os apelos de Deus, pois a alienação nos impede de refletirmos e agirmos.
No contexto atual, “a realidade para o ser humano se tornou cada vez mais sem brilho e complexa” (DAp. n.36). Vivemos numa sociedade doentia, chagada por tantos males. Nunca o coração do homem moderno esteve tão enfermo, sobretudo por negar fazer uma experiência com o Deus libertador em suas vidas.
O mundo está ferido profundamente pela violência, pele divisão e injustiça. Mas, “o Deus dos humildes, o socorro dos oprimidos, o protetor dos fracos, o abrigo dos abandonados, o salvador dos desesperados” (Jd 9,ll), vem em auxílio do seu povo e ouvindo seus clamores e angustias, chama homens e mulheres para ajudar a libertar o povo marginalizado.
Toda a espiritualidade cristã deve ter como princípio o resgate da dignidade ferida. A mensagem de Jesus é genuinamente libertadora. Ele veio para libertar (Lc 4,18-19). Os portadores da mensagem do Reino de Deus (Basileia) estão imbuídos de pôr em prática o mandato missionário de Jesus: “Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios” (Mt 10,8).
Viver isso, hoje, significa muito mais do que fazer orações de cura e libertação, revitalizar mortos, exorcizar “demônios”. Trata-se de curar as causas das doenças maléficas enraizadas no coração do mundo, como: a fome, a desnutrição, a falta de moradia digna para os pobres. É lutar para que a vida não seja mutilada, ceifada por grupos prepotentes que objetivam o domínio do poder econômico. É promover condições básicas que possam incluir os pobres no convívio social. É expulsar o mal estruturado nas instituições políticas, econômicas, sociais, religiosas, etc.
É preciso assumir com responsabilidade a missão de transformar o mundo em que vivemos, não se conformando com as estruturas estabelecidas deste mundo, mas “transformando pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é à vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito” (Rm l2,2).
Deus ainda hoje pergunta: “Quem hei de enviar? Quem irá por nós?” (Is 6,8). Esta proposta está aberta para todos. Cabe, portanto, a nós assumirmos este ideal missionário: Ser mensageiro da esperança, levando a conscientização a todos, ser semeador da liberdade, pois “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres” (Gl 5,l). Ser promotor da paz, fugindo de todos os caminhos que levam a injustiça, ser testemunha da verdade, não aceitando jamais a opressão dos poderosos. Para isso, é preciso o desprendimento de tudo que nos impede de construirmos o Reino de Deus e compromisso com os pobres e oprimidos (Rt 2,ll ).
O Senhor espera de nós uma resposta. Estejamos disponíveis àquele que chama, e assim dizer como o profeta Isaias quando Deus o chamava: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 8), ou seguirmos a atitude de Josué que disse: “Eis que eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24,l5). Sigamos o exemplo de Samuel, que conhecendo a voz de Deus que o chamava, disse: “Fala Senhor que teu servo escuta” (lSm 3,l0). Nos entreguemos a missão profética como Jeremias que confessava: “Tu me seduziste, Javé, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste” (Jr 20,7). Coloquemos-nos a serviço como Maria, que humildemente se deixou levar pela vontade do Senhor: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc l,38). Que nossa resposta seja decisiva e corajosa como a de Pedro: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc l0,28).

PARA REFLETIR:
· Já tive a coragem de sair do Egito para conquistar a terra prometida reservada àqueles que têm a coragem de conquistar a sua liberdade?
· Tenho aceitado a proposta de libertação que Deus tem feito?
· O que tem mais reinado na sua vida, a fidelidade ou a infidelidade?
· Já tomei a decisão de responder ao chamado do Senhor?