
O que significa ser pobre? É simplesmente não ter nada? Penso que não. Ser pobre é esvaziar-se de si mesmo: vontades pessoais, desejos. Somos pobres na medida em que vivemos a Kénosis, o esvaziamento de tudo o que não é Deus.
Ser pobre é saber pedir ajuda ao irmão. Ser pobre é ser humilde: reconhecer que não se sabe. Como precisamos trabalhar em nós este aspecto da pobreza, sendo mais discretos naquilo que fazemos, evitando sermos destaques. É esta vida oculta que devemos cultivar e viver. O que temos: dons, coisas foram dados por Deus. Nada é mérito nosso. Por isso, é para seu louvor tudo o que fazemos e não para satisfazer nossas vaidades. Quanto menores formos, maior reconhecimento teremos da grandeza de Deus.
Ser pobre significa ainda está aberto para acolher a vontade de Deus que é conhecida por meio dos irmãos. Ser pobre é não escolher lugar para morar ou missão a desempenhar.
Outro aspecto da pobreza é a renúncia dos bens. Ter o extremamente necessário. Isso exige vigilância para não se deixar levar pela ideologia consumista. Quanto menos coisas tivermos, mais livres seremos. O apego começa com as pequenas coisas.
As Constituições da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos definem a pobreza numa tríplice dimensão: Disponibilidade no amor, conformidade com Cristo pobre, crucificado e servidor e solidariedade com os pobres (IV,5):
Disponibilidade: Sem disponibilidade não há pobreza. Disponibilidade para sair de si mesmo, para ir ao encontro de Cristo e dos pobres. Tudo isso só tem sentido se for uma expressão de amor. Não é ser simplesmente disponível por ser. Não é um fazer por fazer, mas porque amo o Cristo. Quando a nossa disponibilidade tem como motivação o amor, encaramos a missão, não como peso, mas como algo que proporciona alegria. Só quem pode encontrar a alegria na dor e no sofrimento é quem ama. Fazer tudo com amor. Do serviço mais simples (lavar uma xícara) ao mais exigente (cuidar do doente) deve estar imbuído de amor;
Conformar-se com Cristo: A contemplação do Cristo pobre e crucificado deve me motivar a viver como Ele. Não há outro referencial para viver a pobreza. Foi para Ele que Francisco olhou. Foi como Ele que Francisco buscou viver. Conformar-se com Cristo é assumir a pobreza com todas as suas exigências tendo a coragem de crucificar-se com Ele. O modo como conformar-se com Cristo descobrimos na oração. Quanto mais íntimos formos Dele, quanto mais seremos contagiados, motivados para imitá-lo;
Solidariedade com os pobres: Aquilo que é abundante para mim é o que falta para o pobre. A pobreza deve me levar ao encontro do pobre social. Na medida em que nos tornamos solidários com seu sofrimento e necessidades, experimentamos de fato a pobreza. Francisco ao ir morar com os leprosos nos deixa este testemunho de pobreza. Aproximar-se dos pobres, partilhar da vida deles e acolhê-los são iniciativas que não podemos esquecer. Os pobres nos ensinam, nos lembram como devemos viver o voto de pobreza.
A respeito da pobreza, as Constituições dos Frades Capuchinhos ainda explicita: “A pobreza exige uma maneira de viver sóbria e simples na roupa, na comida, na moradia, e uma renúncia a qualquer tipo de poder social, político ou eclesiástico” (IV, 4).
É em todo o meu modo de viver que se deve manifestar a pobreza: vestir, comer, morar.
O cuidado com a pobreza é importante para se evitar o “aburguesamento”. Somos pobres. Como tais, não podemos viver ao modo dos ricos deste mundo que fazem questão de se apresentar com as melhores roupas, que se banqueteiam com as melhores iguarias, que habitam em mansões, que buscam o poder a qualquer custo. Francisco, nosso pai, se contentava com sua veste simples, rude, comia da mesa dos pobres, preferia casebres e quis ser considerado o menor de todas as criaturas. Seu exemplo é para nós um referencial a ser seguido. Estou disposto a isto?
A pobreza consiste ainda em colocar todos os bens a serviço da fraternidade. Não guardar nada para si. Isto é de fundamental importância na vida franciscana. Quem guarda para si torna-se “ladrão” da fraternidade.
A vivência da pobreza nos leva a confiar na Providência Divina. Deus não nos abandona. Quando esperamos Nele com plena confiança é certo seu auxílio. Quem acumula é porque não confia na Providência. Quem nela confia não se preocupa com o dia de amanhã.
Depois desta reflexão, resta-me suplicar: Senhor, afasta-nos toda e qualquer cobiça e preocupação com o dia de amanhã. Que não estejamos incluídos na lista dos “filhos degenerados de São Francisco” (Const. IV, 4).
PARA REFLETIR:
· Sou coerente com a opção que fiz de viver sem nada de próprio?
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