“NÃO FIQUE PERTUBADO O CORAÇÃO VOCÊS” (Jo 14, 1)

Cesse de perturbar-se o vosso coração! Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar (Jo 14,1-2).

A Palavra de Deus nos diz que “debaixo do céu há um momento para tudo, e tempo para cada coisa: tempo para chorar e tempo para sorrir. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para nascer e tempo para morrer” (Ecl 3,1.4.8.2).
No trilhar de nossa história vamos entendo que a nossa vida é cercada de limitações: “O que é a vida de vocês? Uma neblina que aparece um pouco e logo desaparece”, nos questiona o apóstolo Tiago (4,14).
Mas por que morremos? Se Deus é o Senhor da vida, por que existe a morte? A Sagrada Escritura no livro da Sabedoria encontramos a resposta: “Pois Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos seres vivos. Ele criou tudo para a existência. Mas pela inveja do diabo, entrou no mundo a morte” (Sb 2,4).
Pela desobediência, pela auto-suficiência vem o pecado, e o pecado gera a morte. Na Carta aos Romanos está escrito: “Assim como o pecado entrou no mundo através de um só homem e com o pecado veio a morte. Assim a morte atinge todos os homens, porque todos pecaram (5,12). Diz ainda São Paulo em Romanos, que “a morte é o salário do pecado, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor” (6,23).
A morte é algo que ninguém escapa. Todos um dia teremos que passar por ela. Não importa a classe social, a cor, a religião, todos nós estamos num mesmo caminho: ao encontro da morte.
Ninguém gosta de falar sobre a morte. E não gostamos porque temos medo daquilo que não conhecemos. Tememos a morte, porque, como disse alguém, “talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida”.
Preferimos não refletir sobre a morte, porque ela nos permite questionar todas as nossas certezas, nossas seguranças. Preferimos ficar na ilusão de que aqui permaneceremos para sempre. Engano! Tudo passa. Só Deus permanece.
A realidade deste mundo é transitória. Diz o autor da carta aos Hebreus: “Pois nós não temos aqui a nossa pátria definitiva, mas buscamos a pátria futura” (Hb 13,14). Somos cidadãos dos céus. Triste quem vive apegado e iludido com a realidade visível deste mundo. A esse respeito disse certa vez o papa São Gregório Magno: “Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim”.
Viver é morrer a cada instante. Quem nunca aprendeu a morrer terá sempre medo da morte. Porém, aquele que aprendeu a morrer a cada dia para si mesmo não terá dificuldade de aceitar a morte. Compreenderá que a morte não é a inimiga, mas a companheira. Que ela não é destruição, mas porta que conduz à vida. Que ela não é fim, mas continuidade. São Francisco entendeu bem isso, por isso, prestes a partir deste mundo, disse alegremente: “seja bem-vinda a nossa irmã morte”.
A vida eterna é algo conquistado no cotidiano de nossas vidas. Só a conseguiremos se aqui e agora voltarmos nossas vidas e nossos corações para o Senhor Jesus. O tempo é o agora.
Sobre o dia de amanhã não temos nenhum domínio. O dia de amanhã não nos pertence. A palavra de Deus diz que “o homem não conhece o dia da própria morte; ele é como os peixes, que são pegos na rede, ou como os pássaros que caem na armadilha” (Ecl 9,12). Não diga: amanhã me converterei, a manhã mudarei de vida, mas sim: hoje eu me converterei, hoje procurarei ser uma pessoa melhor. Pois, quem garante que amanhã você estará vivo? Quem garante que daqui a poucos minutos você estará vivo?
Adverte-nos o apostolo Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Uma coisa eu digo a vocês, irmãos: o tempo se tornou breve. De agora em diante, aqueles que têm esposa, comportem-se como se não tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que se alegram, como se não se alegrassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; os que tiram partido deste mundo, como se não desfrutassem. Porque a aparência deste mundo é passageira” (7,29-31).
Deus em sua infinita bondade tem preparado algo melhor para nós. Diz São Paulo, que o que Deus tem preparado para nós é algo “que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, foi isso que Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9). E ainda, diz o apóstolo: “Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam a glória futura que deverá ser revelada em nós” (Rm 8,18).
Diante de tais promessas, não há o que temer. Não há razões para ficarmos perturbados. Por isso Jesus diz: “Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim” (Jo 14,1). “Nada te perturbe, nada te amedronte, tudo passa, a paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta, só Deus basta!” (S.Teresa de Ávila). O nosso Deus é Deus da consolação. Ele nos consola em todas as nossas tribulações (2Cor 1,4), em todas as nossas aflições.
Deus transforma nosso luto em festa, nossa tristeza em alegria, nossa dor, sofrimento em alívio, nosso desânimo em ânimo. Diz a Palavra de Deus por meio do profeta Jeremias: “Mudarei o luto deles em alegria, vou consolá-los e torná-los felizes, sem aflições” (31,13).
O Senhor não nos deixará ao relento, no frio, na noite escura, desamparados, desabrigados. Jesus nos garantiu: “Existem muitas moradas na casa de meu pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês. E quando eu for e lhes tiver preparado um lugar, voltarei e levarei vocês comigo, para que onde eu estiver, estejam vocês também” (Jo 14,2-4). Deus é fonte de vida. Se acreditarmos na sua Palavra, na sua promessa, pela tarde pode vir o pranto nos visitar, mas com certeza, pela manhã vem nos saudar a alegria (Sl 30,6).
Tenha a certeza que, quanto mais escura for a noite sempre haverá uma madrugada, um sol a nascer. Esse sol é Jesus Cristo. Nele encontramos a alegria, o alívio, a paz. Ele é Deus conosco! Conosco em todas as circunstâncias da vida. Ele sempre está presente.
Com Jesus nós enfrentamos o medo da morte. Com a fé nele somos confortados. Com ele temos a esperança que a vida é maior que a morte, que não somos seres para a morte, mas para vida.
A morte não tem e nunca terá a ultima palavra, porque “o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19,16), “o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi”, aquele que venceu (Ap 5,5); aquele que é “o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o principio e o fim” (Ap 22,13); “o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, aquele que abre e ninguém fecha, aquele que fecha e ninguém abre” (Ap 3,7), “o vivente, o que tem as chaves da morte e da morada dos mortos “(Ap 1,18), aquele que estava morto e voltou a vida (Ap 2,8), a “testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3,14), aquele que traz consigo o “salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho” (Ap 22,12); aquele que traz consigo o prêmio para o vencedor (Ap 3,21), Ele venceu a morte, ressuscitou. “A morte não tem mais poder sobre ele” (Rm 6,9).Para que tivéssemos acesso à vida. Cristo “não só venceu a morte, mas fez brilhar a vida e a imortalidade” (2Tm 1,10).
A ressurreição de Jesus é certeza da nossa ressurreição. Escrevendo para a comunidade de Corinto, onde alguns não estavam mais acreditando na ressurreição, o apóstolo Paulo diz com bastante precisão: “Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vocês dizem que não há ressurreição? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm. Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou a fé que vocês têm é ilusória e vocês ainda estão nos seus pecados. Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens” (1Cor 15,12-14. 16-17.19).
A nossa esperança em Cristo deve ir além desses poucos anos que passamos nesta terra.Ele tem preparado uma morada para cada um de nós na nova cidade, onde “nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor” (Ap 21,4), “onde não haverá mais noite: ninguém vai mais precisar da luz da lâmpada, nem da luz do sol. Porque o Senhor Deus vai brilhar sobre eles, e eles reinarão para sempre” (Ap 22,5).
Essa é nossa esperança. Ela é a âncora da nossa vida (Hb 6,19). A esperança nos faz renascer. Dá-nos a certeza de que a nossa vida não se esgota nestes poucos anos que vivemos neste mundo, ela se prolonga além da morte.Como Jó, diante dos sofrimentos, possamos dizer: “Sei que o meu redentor vive e que um dia ressurgirei da terra. Eu o contemplarei com os meus olhos” (20,25).
Esta é uma certeza: quem ama nunca morre, apenas dorme para acordar para uma vida mais plena, onde não haverá dor, sofrimento, tristeza. Quem ama eterniza-se na memória de todo aquele que teve o prazer de desfrutar da sua companhia.
Não é fácil aceitar que as pessoas que amamos tenham que partir. A despedida é sempre uma experiência que nos faz sofrer. Porém, a alegria do reencontro deve nos motivar a continuar a escrever nossa história na linha do tempo da mais bela forma possível.
Que a luz do Ressuscitado penetre profundamente todo o nosso ser e nos preencha de alegria e paz. Que ele cure todas as nossas feridas e renove a nossa esperança.

PARA REFLETIR:
· O que tem perturbado o seu coração?
· Como você tem sentido a presença de Deus nos momentos difíceis da sua vida?
· Em quem ou em que estou colocando a minha esperança?
· O que tenho feito para conquistar a vida eterna?
· Qual a realidade de morte que preciso superar na minha vida?
· Como você se relaciona com as coisas, de forma livre ou apegada?


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