"FRANCISCO DE ASSIS: UMA VIDA SEGUNDO O CRISTO DA ENCARNAÇÃO"


Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl 2,19-20).

Ser discípulo de Jesus significa fazer brilhar neste mundo escuro a luz que é o Cristo com o próprio testemunho de vida. Nesse sentido, Francisco de Assis nos deixou um belo e grande exemplo a ser seguido.
Numa sociedade em declínio, rachada pelo “cupim” do pecado, quando a fé estava em ruínas, onde os valores do Evangelho estavam sendo esquecidos, descartados e a imagem de Cristo estava ofuscada pelas trevas do erro, Francisco aparece como sinal de contradição. Com sua vida apresenta os valores do Evangelho.
Uma vez que escutou o chamado divino na Igreja de São Damião: “Francisco, vai e restaura a minha igreja que está em ruínas” (LM, 2, 1) o mesmo procurou viver de forma radical o seguimento a Jesus não desejando outra coisa a não ser viver como Jesus. Testemunhou o próprio Francisco: “E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test. 4.14).
Sem reservas, Francisco abandona tudo para abraçar o TUDO. Despe-se das vestes do mundo: poder, prestígio, riquezas para vestir-se de Cristo. "Nu segue o nu". Pobre segue o Cristo Pobre. Deseja ser como o Cristo: Na obediência ao Pai, na sua pobreza, humildade e simplicidade. Jesus tornou-se para Francisco o seu existir, o seu viver e seu agir. Era um apaixonado por Jesus: na sua mente, nos lábios e no coração, Cristo era uma presença constante. Todo o ser de Francisco estava mergulhado, envolvido na vida de Cristo.
Por imitar o Cristo em tudo, Francisco tornou-se, nos tempos medievos, um alter Christus (outro Cristo). Olhar para Francisco era como vê o Cristo presente entre os homens, tal era sua semelhança com ele. Sobre essa similitude de Francisco com Jesus, disse um teólogo contemporâneo: “Vistam o Cristo e vocês verão Francisco; desnudem Francisco e vocês verão o Cristo”.
O Cristo da contemplação de Francisco não podia ser outro se não o da humildade, da pobreza e do despojamento. Francisco tinha uma grande devoção à Encarnação. Contemplava o mistério do Deus que se fez homem, do “Verbo que se fez carne” (Jo 1,14), do Deus solidário com a humanidade, que arma sua tenda no meio de nós e permanece conosco (o locus humano torna-se a morada do divino). Na encarnação dar-se o encontro: Do céu com a terra (o céu que desce a terra, para que os homens possam subir aos céus), da Transcendência com a imanência, do Invisível com visível, do Ilimitado com o limitado, da Grandeza com a pequenez, da Força com a fraqueza, do Eterno e com o mortal, do Divino com o humano. Francisco contempla no Mistério da Encarnação o Cristo Pobre que faz opção pela pobreza: “Embora fosse rico, se tornou pobre para com sua pobreza nos enriquecer” (2Cor 8,9).
O Cristo de Francisco é o que assume a nossa condição, exceto no pecado, aniquilando a si mesmo: “Embora fosse de divina condição, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte de cruz!” (Fl 2,1).
A Festa da Encarnação era para Francisco a festa das festas. Francisco ficava em êxtase diante de tão grande mistério de humildade: “Oh! Humildade sublime, Oh! Sublime humildade”. Nesse dia queria que todos os pobres fossem alimentados, animais e pássaros: “Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigos e outros grãos, para que neste dia tão solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias” (2C 151, 200).
Na sua vida, Francisco assumiu os valores presentes no Deus Encarnado. Numa sociedade que os humanos queriam ser deuses, Francisco apresenta o Divino que se fez humano. Numa sociedade que exaltava o poder e o dominar, apresenta o Cristo solidário e servidor da humanidade. Numa sociedade que idolatrava a riqueza, apresenta com sua vida o Cristo Pobre. Numa sociedade obcecada pela honra, prestígio, vanglórias, Francisco faz a experiência do Cristo humilde.
O Cristo que Francisco conhece e se deixa conhecer por ele não é o do palácio, mas o da manjedoura, presépio (símbolo de sua extrema pobreza). O Cristo que Francisco imitou não é o que é acolhido nas pompas palacianas, mas o que é rejeitado, o que não encontra um lugar para nascer, pois suas hospedarias estavam cheias (Lc 2,2).
O Cristo que Francisco amou e deixou-se ser amado por ele acolhendo-o na hospedaria de sua vida, tem rosto, alma e coração de pobre. Francisco é capaz de acolher o Cristo Pobre, porque somente um coração pobre pode acolher o Cristo pobre, somente quem é capaz de esvaziar-se de si mesmo, pode saciar-se plenamente com a presença de Cristo. Somente quem foi capaz de matar o egoísmo para ressuscitar a humildade, pôde dizer: “Meu Deus e meu tudo”.
Francisco, tu que dissestes: “É pois uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós queremos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram” (Adm 6,3), ensina-nos a seguir os passos de Jesus.

PARA REFLETIR:
· São Francisco de Assis procurou em tudo viver como Jesus. Estou disposto ser outro Cristo na sociedade atual?
· Qual a experiência de Cristo você tem feito em sua vida?
· O que é preciso abandonar para viver plenamente em Cristo?
· Sou um sinal de Deus na sociedade moderna?
· Deus tem sido o tudo de sua vida?
· Estou disposto a viver totalmente para Jesus como fez São Francisco de Assis?

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