
O quadro social brasileiro nos apresenta uma realidade profundamente caótica e contrastante. De um lado temos alguns poucos que se enriquecem gradativamente a custa da exploração de muitos, que não têm nem onde reclinar a cabeça. O Brasil, como têm comparado alguns críticos sociais contemporâneos, é uma “belíndia”, ou seja, traz a tona a realidade social de um país desenvolvido como a Bélgica, e de um país subdesenvolvido como a Índia. Uma grande maioria se enquadra neste mundo periférico, enquanto uma minoria privilegiada, detentora do poder econômico, ideológico, se configura dentro dessa sociedade desenvolvida. A situação atual do país é bastante crítica: alto índice de desemprego, crescimento do número de miseráveis, fome, que nunca deixou de ser “zero”, expansão das favelas, concentração de terra, gerando enormes conflitos entre “Sem-Terras” e fazendeiros, ausência de crianças na escola, avanço de uma cultura de violência. Um enorme contingente de brasileiros sentem não só essa “fome de pão”, mas também sente “fome de beleza”, ou seja, do acesso a cultura, a educação, ao lazer. Essa realidade é visível. Estão estampadas no rosto de milhões de brasileiros as cicatrizes do sofrimento, da dor. Marcas cravadas por um sistema que nada tem mais feito do que gerar uma classe cada vez mais numerosa de empobrecidos. Muitos desses, não são somente sem terra, sem teto, sem emprego, sem saúde, sem educação, sem pão, sem dignidade, mas são também os em esperança. Essa ausência de estímulo tem gerado uma sociedade do conformismo, movida pela cultura do “tô nem aí”, que por sinal tem até música para exaltá-la. Alguns se esquivam de olhar o horizonte com um olhar utópico, abandonam a bandeira da esperança, pois o medo, a insegurança, têm reprimido toda e qualquer alternativa de mudança. “A esperança não venceu o medo”, e dificilmente vencerá, quando continuarmos a depositar nossa confiança em sistemas incapacitados para solucionar nossos reais e cruciais problemas. Este mau não está aí para ser contemplado, mas solucionado, transformado. Urge que com urgência levantemos nossos ânimos, que renovemos nossas esperanças na construção de um mundo novo, globalizado por relações de amor e fraternidade. Os que acreditam nesses ideais sublimes são convidados a fazer caminho a onde não existe caminho, a descobrir alternativas, a superar realidades sombrias, escuras, para que um dia o sol da justiça e da dignidade resplandeça no rosto de cada homem e mulher desse chão. Fr. Rufino Pinheiro
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