
Esta caminhada é contínua. É feita a passos lentos e muitas das vezes sobre obstáculos: noites tenebrosas, tempestades, lamaçais que impedem o peregrino de caminhar, pedras que nos faz tropeçar, buracos que nos faz cair, espinhos que nos faz sofrer. Neste peregrinar, como peregrinos do Senhor, somos agraciados pela abundância: alimento, água, acolhimento, sombra para descansar, mas também nos deparamos com a escassez: fome, sede, rejeição, deserto quente e seco.
O que sustenta a vida do peregrino é a sua confiança em Deus. Não importa a situação, ele tem a certeza de que tudo pode naquele que o fortalece (Fl 4, 13). O Senhor é o seu refúgio, fortaleza, amparo, abrigo seguro contra o calor do meio-dia. Por isso, o peregrino não desiste de sua trajetória. Continua sua caminhada na esperança de que alcançará vitórias. Como o apóstolo peregrino, São Paulo, ele tem consciência de que precisa fazer maiores e melhores progressos na sua trajetória existencial: “Não que eu já o tenha alcançado ou que já seja perfeito, mas prossigo para ver se o alcanço, pois que também já fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não julgo que eu mesmo o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (Fl 3, 12-14).
A vida do peregrino do Senhor é permeada por duas atitudes: deixar e partir. Deixamos para trás tudo o que nos impede de realizarmos bem nossa caminhada. Da sua mochila o peregrino deve retirar tudo o que é supérfluo, aquilo que o dificulta de subir a montanha para contemplar o seu Senhor. Deixamos a realidade antiga: pecado, infidelidade, o homem velho e suas concupiscências para partirmos como homem novo na busca de uma realidade nova marcada pela fidelidade e entrega total e radical ao Senhor.
É na oração, na intimidade com o Senhor que o peregrino restabelece suas forças e sacia sua fome e sede. “Com suas mãos combatendo, mas suplicando a Deus em seus corações” (2Mc 15, 27), faz de seu peregrinar um contínuo culto de louvor, de adoração, de agradecimento, de súplica e de oblação. Sejamos nós este peregrino que usa de suas mãos para lutar pela conquista de seus ideais e do coração para rezar. O peregrino do Senhor deve ter consciência de que sua partida deve ser a partir de um convite do Senhor. Não partimos por nós mesmos, mas por que ele nos chamou. E nos chamou para que? Ele mesmo nos diz por meio da Sagrada Escritura a razão pela qual nos chamou: “Eu, Yahweh, te chamei para o serviço da Justiça, tomei-te pela mão e te modelei, eu te constituí como aliança do povo, como luz das nações, a fim de abrires os olhos dos cegos, a fim de soltares do cárcere os presos, e da prisão os que habitam nas trevas” (Is 42, 6-7).
Portanto, fomos chamados para ser sinal de aliança com Deus, ser luz para os que vivem nas trevas do pecado e instrumento de libertação para todos os se encontram presos nas cadeias da angústia, do sofrimento e da morte.
Fomos chamados ainda para caminhar na presença de Deus, amando-o com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com todo o nosso ser. Uma vez que decidimos ouvir o seu chamado, resta-nos confessar que só nele encontramos a paz e alegria.
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