"Quaresma: Tempo de acordar"





A palavra “Quaresma” tem sua origem na língua latina, especificamente do termo “quadragésima” que significa “quarenta dias”. Como tempo litúrgico da Igreja Católica a Quaresma compreende os quarenta dias em preparação a grande celebração da Páscoa, ou seja, tem seu inicio na quarta-feira de cinzas e seu término no Domingo de Ramos. A Quaresma é celebrada desde os primeiros séculos do cristianismo. No Séc. III, os cristãos se preparavam três dias antes para a celebração da páscoa. Um século depois, achando os cristãos que os três dias não era suficiente para tal preparação aumentaram para quarenta dias, como é celebrada até hoje. A escolha dos quarenta dias é bem significativa. Quarenta na Bíblia, como qualquer outro número bíblico, não significa apenas quantidade, mas é carregado de uma simbologia. São várias as passagens bíblicas que fazem referência a esse número, e quase sempre ele aparece significando um tempo de intervenção de Deus na história humana, tempo de provação, tempo de reconciliação, tempo de uma experiência íntima do homem com Deus. O dilúvio durou quarenta dias (Gn 7, 17); O povo de Israel caminhou quarenta anos pelo deserto (Ex 16, 35); Moisés passa quarenta dias e quarenta noites no Monte Sinai (Ex 24, 17); O profeta Elias caminha quarenta dias até o Monte Horeb (1Rs 19, 8); Jonas anuncia que a cidade de Nínive será destruída dentro de quarenta dias (Jn 3, 4); Jesus é tentado no deserto durante quarenta dias (Lc 4, 2); Após a ressurreição Jesus aparece aos seus discípulos num período de quarenta dias (At 1, 3). A Quaresma é um tempo propício de conversão, de mudança de vida, de reconciliação com Deus e com os irmãos. Trata-se de um profundo retiro espiritual vivenciado na prática do Jejum, que possibilita a uma relação consigo mesmo, da esmola que nos abre para uma relação com outro, da oração que nos direciona a uma intimidade com Deus. Tais práticas cristãs devem ser realizadas desprovidas de qualquer interesse pessoal ou sentimentos hipócritas, mas com um espírito de sinceridade (Mt 6, 2-18). Celebrar a Quaresma é antes de tudo se propor a entrar nesse caminho de conversão (penitência). Não basta ir à Igreja e participar das cerimônias litúrgicas, se não procurarmos transformar nossa maneira de pensar e agir, se continuarmos numa prática religiosa descomprometida com Deus e com o próximo. A Quaresma nos faz uma convocação à mudança (metanoia). Para isso, convém que nos despertemos do sono do comodismo, da alienação, do egoísmo, do ódio. É hora de acordar! Por isso, “desperte você que está dormindo. Levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará” (Ef 5, 14).
Fr. Rufino Pinheiro

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